sábado, 7 de novembro de 2015

Primeiras Impressões: Platinum End (De Tsugumi Ohba e Takeshi Obata).


O suicídio.

Tentarei ser mais direto possível sobre este primeiro capítulo de Platinum End: Uma grande decepção - Quando eu soube que Ohba e Obata iriam trabalhar juntos novamente, logicamente fiquei bastante animado. Death Note é uma das minhas obras preferidas dos dois autores e o fato de agora estarem trabalhando em uma revista que lhe darão uma liberdade criativa muito maior, eu sinceramente esperava que a dupla entregasse, já no primeiro capítulo, um conteúdo fantástico e muito bem desenvolvido. Contudo, não foi isto que eu vi.

Para quem não conhece, Ohba e Obata trabalharam pela primeira vez juntos em "Death Note" lançado em 2004. Alguns anos depois, a dupla lançou um segundo material, chamado de "Bakuman" que contava a história de uma dupla de artistas que sonham em se tornarem grandes mangakás. Os dois mangás foram aclamados pelo público e pela crítica, por apresentarem ideias e fatos de maneira extremamente coesa. Death Note era um mangá que unia o sobrenatural e os elementos de mistério e investigação, de uma maneira bastante convencida. A crítica social que estava presente no mangá, era fantástica. Já Bakuman, nos apresentou o universo da criação de um mangá na revista Weekly Shonen Jump, além de entregar personagens extremamente carismáticos que constantemente faziam referências a mangakás reais. Por mais que muitas informações de Bakuman foram modificadas para dar uma dinâmica mais interessante a série, a dupla entregou um conteúdo coeso e que se aproximava no máximo possível a realidade dos autores da Jump.

O problema de Platinum End não está nas mãos de Obata. Este incrível artistas entregou mais uma trabalho onde a arte estava fantástica. As expressões do protagonista, em poucos quadrinhos conseguia entregar perfeitamente o sentimento que passava por dentro da sua cabeça, a depressão que o ia correando por anos e anos, ao ponto dele não acreditar mais na felicidade, no amor e na liberdade. O problema do primeiro capítulo de End vem de Ohba - O roteiro apresentado neste primeiro capítulo é fraco, com erros básicos de desenvolvimento e principalmente, traz uma história tão didática e mastigada, que parece que o autor está duvidando da inteligência dos próprios leitores, como estivessem vendendo a obra para crianças de oito anos que precisam ter todas os dados explicados três ou quatro vezes para finalmente consigam entender.

Explicando com mais detalhes o que quero dizer: Foram gastos 22 páginas somente para explicar o sentimento do protagonista. Obata fez um trabalho fantástico em trazer, no olho do protagonista, toda a angustia que o dominava. Contudo, este fantástico trabalho não serviu para nada, já que Ohba preferiu explicar que o personagem principal não havia mais vontade de viver de vários modos diferentes nas primeiras páginas: Mostrou o personagem isolado quando todos estavam felizes comemorando, logo após o mostrou cometendo suicídio, que já é a prova concreta que o personagem não tem mais vontade de viver - Até aí, tudo correto - Mas isso não bastou para Ohba, quis mastigar ainda mais a informações: Por cerca de 10 páginas seguidas, o roteirista reforçou o que já havia entendido em diálogos: Da página 12 até a 22, foram ditas 12 frases pelo protagonista para demonstrar que o mesmo não gostaria mais de viver - Olha que não estou contando os balões do anjo que também só reforçava a mesma ideia -. Por fim, deixando ainda mais claro o meu ponto, tão didático quanto o início da série, quando o anjo explica o passado do protagonista, logo entendemos que o motivo do seu suicídio foi a vida horrível que ele vinha passando, onde os seus familiares ainda vivos, o maltratavam. Isso fica claro, entretanto, Ohba decidiu reforçar ainda mais o ponto, fazendo que Mirai (O protagonista) ainda dissesse: "Sem família, sem amigos... Não aguento mais.. Eu já não tenho mais amor" - E depois utiliza mais frases para deixar claro o que já está claro: " Também não tenho mais esperanças para o futuro" - Acredite, meu amigo, se você cometeu suicídio, imaginamos que não tem mais alguma esperança para o futuro, não precisa deixar isso claro usando mais um balão. 

A história nas primeiras páginas empacada em erros terríveis de narrativa, onde para deixar o sentimento do protagonista claro para o público, o roteirista exagera, deixando a história tão didática quanto um livro de história para o vestibulandos. Logo após, o roteiro comete mais outros deslize estranhos: Vamos ignorar que Mirai não esteja surpreso por ver um anjo, vimos história como Melancholia de Lars Von Trier, que tratam a depressão de um modo bem realista, e juntam com o sobrenatural também de um modo convincente, no caso do filme em questão, percebemos e nos convencemos que a protagonista, por não se importa mais com a própria vida, também não se importa mais com o fim eminente do mundo... O estranho, o sobrenatural não a surpreende, já que a depressão dominou tanto o seu ser, que os seus sentimentos se tornaram apáticos (E somente quem já passou por uma depressão pesada, ao ponto de ter que pegar medicamentos para se levantar da cama, sabe como é difícil pesada esta apatia causada pela doença). Então, eu aceito que o protagonista esteja apático ao fato de um anjo está carregando-o ao longo da cidade, porém, quando o anjo diz que pode dar asas que lhe dará uma liberdade espetacular e lhe fará ir mais rápido que um raio, Mirai não consegue acreditar na possibilidade disto, o que é ridículo e contraditório, já que o mesmo está acreditando com a maior facilidade que um ser de asas enormes, branco florescente e que a existência transcende o "natural", lhe está carregando sobre toda uma cidade.

Após este começo penoso, a história podemos dizer que dá uma pequena melhorada - Não digo que conseguiu surpreender, mas melhorou - Ohba decide apostar no básico, aquela velha história dos parentes que mataram a família do protagonista para assim poder ter o dinheiro. Como milhares pessoas já não tivessem lido "Desventuras em Série / Uma Série de Desgraças", fantástico livro de Daniel Handler. Revelando a verdade sobre o "acidente" dos seus pais e ao mesmo tempo dando-lhe um poder o suficiente para poder questionar e controlar os seus pais de criação, Mirai se vê na mesma situação de Kira em Death Note. A cena em que se desenvolve toda esta cena, onde Mirai questiona a sua mãe de criação e por engano, a mata, é convincente e interessante. Ohba consegue entregar uma boa dramaticidade a cena e ao mesmo tempo Obata continua entregando páginas artisticamente perfeitas. 

Os pequenos problema desta sequência de cenas é que o roteirista pescou demais da sua obra precedente, Death Note. Também tentou entregar "plot twist" na história que não surpreendem nem uma criança de 5 anos, principalmente se esta criança tiver o costume de ver novelas mexicanas, onde em cada história colocam um "plot" parecido com este de Platinum End. E por fim, continuou deixando extremamente didático todo a progressão do roteiro: Falas exageradamente explicativas e redundantes, que reforçam o que expressões faciais ou mesmo cenas já haviam deixado bem claro aos leitores. De qualquer modo, devo assumir que a cena em que a mãe de criação enfia a faca no pescoço foi bem chocante e inesperada - Sim, eu esperava que os dois acabassem morrendo, mas não em uma maneira tão chocante, achei bem corajoso, levando em conta que os mangás da revista SQ evitam uma violência tão chocante, mesmo a magazine sendo para maiores de 18 anos - O fato do pai de criação (Tio do protagonista) também não ter morrido, achei bem surpreende, principalmente se levarmos em conta que ele é o verdadeiro culpado pela morte dos pais de Mirai. 

Devo dizer que esta sequência realmente tornou a leitura de Platinum End prazerosa, pois por mais que a história não seja uma grande novidade, o roteiro estava funcionando: Entregar uma história previsível, eu até consigo tolerar, entretanto, é extremamente difícil sentir prazer em ler um mangá, livro, ou ver um filme, onde o roteiro é incoerente e ao mesmo tempo extremamente didático, parecendo que foi escrito para crianças, quando na verdade a história é direcionada para jovens e adultos. São erros que NENHUM autor que se respeite deve cometer, e vim de Ohba que é um dos roteiros de mangá que mais respeito, por ter criados obras fantásticas como Death Note, é uma grande decepção. A história de Platinum End passa longe de ser ruim, a temática que a dupla está tentando abordar é muito interessante, contudo para dar um prazer na leitura é necessário entregar um conteúdo bem escrito, bem desenvolvido. Caso você leia um mangá como fosse um "material para entretenimento e só" ou seja alguém que consegue se satisfazer com história mais didáticas, tudo bem, pode funcionar, mas para mim que procuro de certo autores roteiros excelentes e bem desenvolvidos, foi uma grande decepção este primeiro capítulo. Uma história pode entregar um primeiro capítulo lento, apresentar poucos fatos, porém JAMAIS deve dar ao público um capítulo com um desenvolvimento falho. Uma frase é que bem comum no universo literário: "Escrever uma história é 1% inspiração e 99% transpiração" - Ohba falhou na transpiração deste primeiro capítulo. 

Contudo, as últimas páginas foram prazerosas de se ler - Como eu já disse mil vezes, a cena em que Mirai confronta os seus parentes é interessante - Mas, o que me fez ter mais esperanças sobre a história é o "plot" dos treze anjos, onde o ganhador conquistará a posição de "Deus". Gostei bastante desta ideia e acredito que se for bem desenvolvida, poderá nos entregar uma história realmente interessante. Platinum End é um mangá que tem um potencial enorme, tem autores que são talentosos e experientes, tem uma ideia muito boa, porém que neste início apresentou um grande problema de desenvolvimento que estragou grande parte da apreciação do capítulo. Já vimos Ohba cometer erros de desenvolvimento em Death Note e Bakuman, porém todos eles no meados da história, espero que ele não comece a cometer erros já no início, eu estou colocando muita fé na história e espero que o mangá acabe dando muito cedo. Não quero que Platinum Ends seja mais uma simples obra de "entretenimento", onde eu leia por alguns minutos e já esqueça da sua existência. Se o objetivo da dupla é entregar uma história que questione a vida e a morte, que me entregue uma obra que me faça ansiar pelo capítulo seguinte.


Esta matéria são as minhas primeiras impressões sobre o primeiro capítulo da série - Não é uma opinião sobre a série em geral. A obra pode ter um péssimo primeiro capítulo, em minha visão, porém pode acabar me agradando ao longo dos demais capítulos (e vice-versa). Também é importante lembrar que não tenho em minhas mãos a verdade absoluta, por isso, por mais que eu tente ser quanto mais técnico possível em minha análise, não deixa de ser a minha visão em relação ao primeiro capítulo. Caso tu leia, sem ao menos ter visto a série, recomendo ver-la, para assim poder criar uma opinião própria. Quem sabe, tu não tenha uma visão que difere da minha. 

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